Promessas



Promessas
Era como se eu não soubesse mais nada de mim… Eu o via partir e não podia fazer nada, na verdade podia, mas não queria fazer nada, pois não queria atrapalhar a sua vida. Ele encontraria a felicidade distante de mim e de todos. Ele encontraria novos amigos, novas pessoas e seria realmente feliz. Deixaria aquele estado sorumbático e finalmente encontraria um porto seguro.
Confesso que doeu-me vê-lo ir, me deixou confusa e melancólica… Aquele seria nosso último adeus e eu sabia disso, mas mesmo assim permaneci firme, desabava por dentro, mas por fora demonstrava indiferença. Disse: “Seja feliz” e depois o vi partir. O segui com os olhos por um bom tempo e, quando não mais o podia ver, chorei como jamais havia chorado.
A melhor parte de mim, o meu complemento, o meu próprio reflexo, era o que ele era. Nele eu via meus medos, minhas dores, minhas fantasias, meus sonhos… Vivemos bons momentos juntos. Foi bom estar com ele mesmo que por pouco tempo, ter sido sua amiga, sua confidente, sua parceira de solidão.
Penso que agora, com ele seguindo o caminho dele, eu deveria seguir o meu, esquecer tudo e viver minha vida. Vou guardar as coisas boas que tivemos em meu coração e o resto descartar.  Esquecerei das promessas não cumpridas, das lágrimas derramadas, do amor não correspondido e lembrarei apenas das risadas e da amizade. Isso vai bastar para que meu coração possa cicatrizar.
Espero que algum dia o reencontre e que finalmente aqueles olhos que tanto admiro brilhem, demonstrando uma felicidade que nunca consegui proporcionar-lhe e eu estarei feliz por isso. Então, só aí eu poderei ir em paz.


Eu quis...



Eu quis…



Estou exatamente onde eu queria estar quando resolvi que iria escrever esta carta. Estou olhando o pôr-do-sol de uma maneira que jamais havia olhado. Pois agora ele não era apenas um pôr-do-sol, era o pôr-do-sol. Ele está me fazendo refletir a minha vida. Tudo que eu fiz e… tudo que eu quis

O que eu quis? Será que eu sei realmente o que eu quis? Ou apenas idealizei um querer? Não sei. Mas supondo que eu saiba o que eu quis… Eu quis ter amor.

Eu quis uma pessoa que me escrevesse cartas para me mostrar que alguém se lembrava de mim. Eu quis receber uma rosa ao menos uma vez na vida e guardá-la num caderno, para anos depois encontrá-la e relembrar bons momentos.

Eu quis alguém com quem eu pudesse gritar e de repente esse alguém risse de mim e me provocasse dizendo: ‘Você fica ainda mais linda com raiva’. E que logo depois me abraçasse e dissesse que tudo estava bem, porque ele estava ali. Ali comigo. E eu iria me sentir realmente bem.

Eu quis alguém que, ao invés de enxugar minhas lágrimas, chorasse junto comigo. Compreendendo minha dor e sentindo-a como eu. Eu quis alguém que estivesse ao lado da cama quando eu estivesse doente e que me tratasse como uma criança que precisava de proteção e carinho.

Eu quis saber o que é se doar completamente. O que é ser a alma-gêmea de alguém. O que é completar uma pessoa e ao mesmo tempo se sentir completa com a mesma.

Eu quis chorar por uma desilusão amorosa e não pela falta de amor. Eu quis sonhar com o meu príncipe encantado e não dormir com o sapo. Eu quis ter medo de perder e não perder o medo.

Eu quis alguém que saísse às pressas pra ir me buscar onde eu estivesse, porque eu havia sido golpeada pela vida. E que quando chegasse a mim, me abraçasse e me incentivasse a continuar, pois a vida de uma forma ou de outra prossegue.

Eu quis uma pessoa que não fosse um poeta, mas que tivesse sensibilidade para ouvir uma bela música e dizer que combinava comigo. Ou ler uma história com um final feliz e me dizer que era nossa história.

Eu quis alguém que fizesse as batidas do meu coração acelerar. Que me fizesse tomar banho de chuva juntamente com ele e me mostrasse o quanto a natureza é bela.

Quis assistir filmes ao lado desse alguém. Filmes românticos com finais tristes, mas comoventes. E que a me ver chorar ao final deste me dissesse que mesmo as histórias tristes podem ser bonitas, pois onde há amor há beleza.

Eu quis alguém que me fizesse baixar a guarda apenas com um olhar. Que fizesse a minha pele arrepiar com um simples toque. E que ao invadir o meu corpo, invadisse também meu coração.

Eu quis ouvir uma música e poder dizer que era a ‘nossa’ música. E ouvi-la milhares de vezes sem enjoá-la, pois jamais enjoaria o meu amor.

Eu quis… Eu desejei amar… Eu almejei ser feliz e fazer outra pessoa feliz também. Eu cobicei um lugar no coração de alguém. Mas querer não foi poder pra mim. Querer foi só sonhar. Um sonho que nunca se tornou realidade e que jamais se tornará.

Agora é tarde demais, minha vida não tem sentido, aliás, nunca teve mesmo. Escrevo esta para provar que, não sei ao certo o quê, mas eu quis…